segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pobre ratoeira

Era dia, como ontem, mas outro, um rato (igual a qualquer outro, mas diferente daquele do dicionário) estava à procura de uma ratoeira, comida na certa.
Havia um gato, sim, um gato, não parecia muito feliz, era velho, um velho gato. Da mesma forma que seu ego, era cinza, e dessa forma via o mundo, cinza, não havia preto nem branco... Cinza. Esperava renascer.
O rato não conhecia a felicidade, era feliz, tinha medo, "pobres ratoeiras", pensava.
"Pobre mundo" pensava o gato, "por que tão cinza?"
Havia uma cama. Havia uma pessoa deitada, no chão, ao lado da cama. Tentava dormir, mas não conseguia, então pensava, longe, pensava em outras pessoas, pensava na vida, pensava em alguém. Não era pensada. Era feliz, em quanto pensava.
E o mundo? Sempre a girar. Quantas vezes por dia penso no mundo?
O rato encontrou uma ratoeira, bela ratoeira, divina, talvez tivesse sido usada no Olimpo.
Chovia.
"E o mundo tem goteiras" pensou o gato.
Quantas vezes por dia penso em dinheiro? Tenho contas a pagar, não sei contar. Conto histórias.
"Pobre rato" disse a ratoeira a si mesma, "está faminto, também estou".
O rato morreu com o queijo na boca, de fome.
"Todo mundo fala: gato gosta de leite, gato não gosta de água, gato isso, gato aquilo. Estou abdicando. Todo mundo tem o direito de não ser um gato."
A pessoa se levantou, estava decidida a fazer algo grande, mudar o mundo, cerrou as mãos, deitou e dormiu.
Andando pelo quarto, o gato se deparou com o rato, a ratoeira e o queijo.
Estranho, o queijo não era cinza, e tirando-o da boca do rato, falou.
_ Pobre ratoeira.

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