segunda-feira, 9 de julho de 2012

Faz um bom tempo que fiz essa tirinha(?), mas acho que ela tem bastante a ver com o blog.

domingo, 15 de maio de 2011

Fogueira humana

Se você perdeu o apetite quando viu a barata na TV, lembre-se, há quem vomita quando te vê.

Baratas engravatadas, que um dia foram à escola (lugar onde aprenderam a jogar folhas de papel no lixo), hoje encontram-se ocupadas perdendo o tempo, ganhando a vida, ganhando folhas de papel.

Tempo... já viveu livre, já viveu em relógios, hoje vive em agendas.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Fim

- Gosto desses diálogos.
- Quais?
- Esse que nós estamos tendo, por exemplo. Não tem narrador. Não gosto de narrador. Principalmente aqueles oniscientes. Acham que sabem de tudo.
E Alfonseca respondeu com um profundo tom de reprovação, embora soubesse que Josias tinha toda razão:
- São mentirosos.
Josias, diante da situação, desatou a chorar. Não acreditava que um amigo de tão longa data teria a audácia de, em um momento tão delicado, lhe ferir com tais palavras.
- Além disso, narradores são intrometidos.
Diante do sofrimento de Josias, Alfonseca, com um ar de repugnância ao ver a decadência de seu amigo, virou-lhe as costas e se dirigiu à saída.
Josias naquele momento percebeu que sua vida nada mais valia, e antes de arrancá-la de sí próprio, através de um impulso desesperado, apunhalou seu não mais amigo pelas costas.
Naquela noite, dois traidores morreram.
- E tem aqueles que nem sabem narrar.
Fim.
- Aí já acho que o problema é com o escritor.
- Ah, sim. Claro... O escritor.
- Não sei se quem diz "Fim." é o escritor ou o narrador. Talvez seja o editor.
- Se fosse o escritor, provavelmente nosso diálogo já deveria ter se acabado.
- Verdade...
- O narrador está muito quieto.
- E por falar nisso, eu sou o Josias, ele é o Alfonseca. O narrador confundiu tudo.
- Fim.
E assim terminou a história dos dois castores que acharam que venceram o narrador.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Lembro quando estava na escola, prestando atenção em uma aula qualquer, quando o impossível possibilitou-se.
Tudo que sempre fui (um excesso de existência) se fundiu ao grafite e jorrou pela ponta do lápis. No paraíso branco do papel surgiram chagas escuras que embora reunissem todo o meu ser, nada significavam para o professor. Foi naquele momento que virei palavra.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Dor de Cabeça

É de modo efervescente que as gotas de chuva caem em sua boca. Vidas destruídas em cima de cadeiras de praia. Grãos de areia que vagueiam ao som do luar e não encontram onde se molhar. Deixar que o fogo derreta a sua água é uma forma humilde de se mostrar o maior perdedor do infinito. Quando se perde uma moeda sabe-se que ela sempre estará em algum lugar. Isso é fascinante!! Pouca coisa me deixa mais feliz do que isso. Lembro-me de uma vez, eu devia ter uns 8 anos de idade, quando minha casa estava em reforma, eu tinha um brinquedo, um Power Ranger, eu o coloquei dentro do buraco de um tijolo. Ele está até hoje dentro do muro. Isso me deixa feliz, não sei por que...
O resto do mundo acha mais importante assistir novela ou limpar o nariz ou andar de carro até o mercado que fica a dois metros de casa para comprar arroz e feijão do que pensar sobre o quão legal seria ver os próprios dedos dançando ao som de “Singin’ in the rain”... E todos se defendem dizendo que têm o direito, e que têm a obrigação de lutar por seus direitos. Já conheci pessoas que colecionavam direitos, hahaha, diziam-se anarquistas!
Com o lápis que uso para escrever, também posso furar seu olho! Poético, não?
Não trapaceie, use a contramão. Pra que chutar um cachorro?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

K.

Um trecho de "O Processo", escrito por Franz Kafka:

"Alguém me disse - já não consigo me recordar quem foi - que era maravilhoso o fato de, quando se acorda cedo pela manhã, ao menos de um modo geral, encontrar tudo no mesmo lugar em que foi deixado na noite anterior. No sono e no sonho, pelo menos aparentemente, a gente se acha em um estado essencialmente diferente da vigília, e conforme aquele homem disse, aliás não com muita razão, é necessária uma presença de espírito infinita, ou melhor, presteza para, ao abrir os olhos, de certo modo apreender tudo o que ali está, no mesmo lugar em que foi abandonado ao anoitecer. Por isso, também, é o momento mais arriscado do dia; uma vez superado, sem que se tenha sido deslocado do lugar em que está para outro lugar, a gente pode encarar consolado todo o resto do dia."

sábado, 15 de agosto de 2009

Eco

Já era tarde, mais tarde do que deveria ser, estava atrasado. Relógio quebrado.
“Nunca jogue fora um relógio quebrado dizia minha avó.”
O tempo passa, os segundos não.
“O trem já deve estar prestes a partir.”
Velocidade máxima permitida: bem abaixo da velocidade do tempo quando se está com pressa.
Sinal verde.
“Nuvem cuspida dos escapamentos.”
Sinal amarelo.
“Ninguém se importa com o sinal amarelo.”
Sinal vermelho.
“A buzina poderia ser um freio.”
Eco.
Já era tarde, mais do que deveria ser, estava atrasado. Trem quebrado.