quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O homem cuja orelha cresceu

(Ignácio de Loyola Brandão)

Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam a cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.

Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.

Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama. Dormiu.

Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hospedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.

Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.

E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.

E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: "Por que o senhor não mata o dono da orelha?"

domingo, 14 de setembro de 2008

Card Tower

Bem, de uns dias pra cá venho percebendo que adquirí um vício: construir Torre de Cartas.
Embora pareça um campo um tanto limitado, é possível se fazer uma infinidade de esculturas usando-se apenas cartas.
Pois bem, agora chega de blá blá blá e vamos a algumas fotos, frutos de minha insanidade (ou falta do que fazer mesmo).

Esta foi a mais alta que eu consegui terminar.

Há coisas na vida que só se consegue fazer uma vez, essa é uma delas.

Estilo Italiano

Estilo Grego

Estilo Rústico

Estilo Contemporâneo

Meu Preferido: Estilo Nórdico

Esta foi a mais alta torre que eu contruí, mas infelizmente, por um assalto do destino não consegui terminar.

Eis o momento do pulo do gato, as duas últimas cartas e eu bateria o meu recorde, mas dessa vez Newton me venceu.

Ode à Guernica

Yucatán

Casa na montanha

Castelo do Drácula
Pra todo Rise há um Fall

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Tutorial: Amarrar o Tênis

Uns dizem que a descoberta do fogo foi o acontecimento mais importante da humanidade, outros dizem que o primeiro grande passo que a humanidade deu para o progresso, foi a criação da roda, mas o verdadeiro e mais extraordinário grande feito da humanidade, foi o desenvolvimento da técnica de amarrar o tênis.
Com isso, venho por meio deste post, ensinar e registrar nesse abrangente mundo da internet, de forma simples e rápida, a arte milenar de como se amarrar um tênis:


1° Passo: Tenha em mãos, ou em pés, um tênis, sapato, ou algo que tenha cadarço.


2° Passo: Cruze as duas pontas do cadarço e puxe-as de modo que fique como ilustrado na foto a seguir. Essa parte é simples, mas também é muito importante para o desenvolvimento de um futuro laço, é como se fosse o alicerce de uma casa, portanto, tenha muita cautela .


3° Passo: Agora, começa a construção do laço, não citarei o exemplo clássico do coelho, mas bem, una a ponta do cadarço perpendicularmente, como mostra a foto, e segure com o polegar e o indicador, logo, repita esse processo com a outra ponta (dica: use as duas mãos).



4° Passo: Essa é a parte mais romântica do processo. Una as duas intersecções , cruzando-as. (ignore o meu dedo) [olha! parece um cromossomo]


5° Passo: Agora vem o Grande Truque, os mais supersticiosos dizem que é magia negra, mas tudo tem o seu segredo. Veja que abaixo da intersecção, forma-se um anel, então passe aquela voltinha, que parece a orelha de um coelho por esse anel. (Veja as fotos que fica mais fácil)



Ultimo Passo: Puxe as duas orelhas com firmeza para apertar o laço e voilà, seu calçado está firmemente amarrado a seu pé.


Dica: Treine ao menos umas duas horas diárias para se tornar um Expert no assunto.
Dica2: Para ter certeza de que o laço está definitivamente firme, de uns pulos, chute a parede e dance a "Dança do Quadrado", se ele não se desfizer, meus parabéns, você fez um laço perfeito (isso acontece muito raramente).

Considerações finais: Espero que este tutorial tenha sido útil, embora as pessoas geralmente aprendam a amarrar os sapatos antes de aprenderem a ler, ou saberem o significado da palavra intersecção.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A triste história do menino

Havia um menino chamado menino, com m minúsculo.
menino morava na rua rua, com r minúsculo.
Sua mãe se chamava mãe, com m minúsculo.
Seu pai, Não-tinha-nome, com dois hífens.
Seu cachorro se chamava Roberto Fonseca, era muito esperto.
menino era estudante, não fazia nada da vida.
menino sempre sonhou com o Futuro.
Um dia seu sonho se realizou e se transformou em seu pior pesadelo, o Passado.


Ps: escrevendo esse poema, eu cheguei a um dilema: se uma pessoa tem o nome registrado com a letra inicial minúscula, no inicio de um parágrafo ela ficaria minúscula?